O compromisso de tornar o Estado mais resiliente norteou a entrevista concedida pelo governador Eduardo Leite à Associação dos Grupos Regionais de Comunicação do Rio Grande do Sul (ADI Multimídia) na segunda-feira, 5, em Porto Alegre. O chefe do Executivo gaúcho destacou a importância do Plano Rio Grande, programa que funciona como um guia na reconstrução, adaptação e enfrentamento de eventos climáticos.
Durante o encontro organizado pela Secretaria de Comunicação (Secom) com representantes dos 30 grupos regionais, Leite fez um balanço das ações do Governo do Estado após um ano da tragédia climática que assolou os municípios gaúchos. “Vamos tornar o Rio Grande ainda mais forte e preparado para o futuro”, garantiu.
Durante a entrevista, o governador abordou as prioridades no processo de reconstrução, destacou avanços nos sistemas de monitoramento e prevenção e anunciou um novo programa de apoio à agricultura familiar. Leite defendeu o avanço das concessões rodoviárias e falou do futuro político e da participação nas eleições de 2026.
Há um ano, neste mês, vivíamos um dos momentos mais dramáticos e desafiadores da história do Rio Grande do Sul. Hoje, quais são as ações prioritárias do Governo na reconstrução do estado?
O Plano Rio Grande - que pode ser acompanhado pelas redes e no portal planoriogrande.rs.gov.br - se propõe a tornar o Estado mais forte. Esse plano inicia imediatamente com a prioridade de resgatar as vidas, em seguida entram as ações emergenciais com assistência às famílias e aos municípios impactados. Uma das iniciativas foi o programa Volta por Cima que colocou cerca de R$ 250 milhões do Governo do Estado na mão dos mais impactados (R$ 2,5 mil para cada família). Em seguida, vem o restabelecimento e a reconstrução, fases em que o Estado realiza contratações. Algumas ações avançam mais rapidamente e outras levam mais tempo, pois são projetos mais complexos, mas estamos evoluindo. O programa Desassorear RS disponibiliza R$ 300 milhões em maquinários que estão sendo utilizados em dezenas de municípios, simultaneamente, a partir dos projetos que os prefeitos nos apresentaram para fazer a limpeza, retirar a sedimentação dos rios e permitir melhor curso das águas para evitar enchentes, além de outros R$ 700 milhões para dragagens nas hidrovias gaúchas. Somente nesses projetos há um investimento de mais de R$ 1 bilhão.
Nas estradas do Rio Grande do Sul foram executados trabalhos por meio dos nossos contratos de manutenção e conservação, que permitiram que 94% das rodovias estaduais fossem liberadas para o tráfego. Também tivemos ações mais complexas. Um exemplo bastante exitoso de recomposição foi da ponte entre Lajeado e Arroio do Meio, no Vale do Taquari. A execução da obra levou sete meses, um prazo bastante rápido para a complexidade daquela obra. E para outros tantos pontos organizamos lotes de rodovias, pelo menos 15 já contratados e vamos chegar a mais de 20, em que serão investidos mais de R$ 2 bilhões em recomposição integral das rodovias. Agora no mês de maio, início de junho, o Daer deverá fazer análise desses projetos e as empresas já entram em campo. Em alguns lugares já estão iniciando trabalhos preliminares, mas as obras mais robustas vão começar a aparecer a partir dos meses de junho e julho. Não estou falando de fazer um tapa-buraco ou pequenos reparos, é refazer rodovias inteiras. Além de refazer, torná-las mais resilientes.
Além disso, temos a demanda por moradias que envolve, muitas vezes, a identificação e compra de uma área, a desapropriação e a construção de projetos que não haviam antes. Então, tudo isso também já começa a aparecer, como as moradias definitivas em Santa Tereza e Encantado, além das moradias provisórias, que foi um caminho para dar dignidade para o acolhimento das famílias que foram atingidas e que estavam vivendo em abrigos. As moradias provisórias já nos fizeram reduzir muito o número de abrigos e praticamente fechá-los na maior parte dos municípios.
Prevenção é palavra de ordem. Em um ano, quanto se avançou na implementação de sistemas de prevenção e de monitoramento para que possamos nos preparar para futuros eventos extremos climáticos e, de que forma o Estado vem auxiliando as prefeituras neste trabalho?
A prioridade é proteger e garantir as vidas. Como é que a gente faz isso? Com sistemas de alertas mais robustos e esses sistemas envolvem a instalação de equipamentos como radares meteorológicos. O Estado não tinha radares próprios. Ele usava as informações disponíveis por radares da aeronáutica, por exemplo. Nós contratamos já um primeiro, instalado na Região Metropolitana, que tem uma cobertura bem ampla do estado, mas vamos instalar outros três radares que estão sendo contratados. A reforma e a manutenção das estações hidrometeorológicas existentes já foram encaminhadas e isso nos ajuda a ter uma leitura adequada das condições das chuvas. Além disso, estamos contratando, neste mês, serviços de batimetria e topografia. A partir disso, o outro estudo que é contratado é o de modelagem hidrodinâmica.
Quando você associa tudo isso, o radar, a estação hidrometeorológica, os estudos dos rios, da topografia, uma modelagem hidrodinâmica, a gente vai conseguir, muito em breve, emitir alertas mais precisos para a população. Além disso, estamos fazendo a contratação de equipamentos, helicópteros, viaturas, botes, todos os equipamentos para a Defesa Civil, Brigada Militar, Corpo de Bombeiros, que é a nossa força de resposta para entrar em campo quando necessário. A gente precisa ter a nossa própria capacidade de resposta.
A proteção das cidades envolve sistemas de proteção que são mais complexos, mas que também estamos trabalhando. Estudos para as bacias do Taquari-Antas e Caí estão sendo contratados.
Em outras bacias, como a do Rio dos Sinos, do Gravataí, nós já estávamos numa fase mais adiantada, porque o Estado já vinha promovendo estudos. Os projetos para a cidade de Eldorado e para o Arroio Feijó (Alvorada e Porto Alegre), já estavam em fase mais adiantada e estão sendo revisados.
É importante mencionar que há o acompanhamento de um comitê científico que o Estado constituiu. São 41 especialistas, entre geólogos, hidrólogos, meteorologistas, engenheiros, que acompanham todas as ações que estão no Plano Rio Grande para garantir que tudo que está sendo feito seja realmente para garantir o Estado mais forte.
As ações incluem a revisão do Plano Diretor dos municípios atingidos?
É mais uma iniciativa. Contratamos, por exemplo, para o Vale do Taquari, região que foi especialmente afetada, a Univates para fazer revisão dos planos diretores, porque nem sempre a solução, como dizem os especialistas, é estrutural (erguer um dique, por exemplo). Eventualmente é sobre induzir o desenvolvimento da cidade para regiões mais seguras. Especialmente depois de um desastre como esse, em que regiões inteiras foram devastadas, trabalhamos na lógica de poder ajudar os municípios a desenvolver os espaços que as pessoas vão ocupar em locais mais seguros, enquanto que aquelas localidades que foram atingidas se tornam áreas de uso restrito. Serão parques, por exemplo, que ajudarão a retardar a velocidade da enxurrada, preservando aquela região e as localidades adjacentes da força das águas.
Além da enchente histórica, que tornou milhares de hectares de terra improdutivos, ciclos de estiagem também desafiam os agricultores nesses últimos anos. De que forma o Estado vem trabalhando para auxiliar e dar respostas aos produtores?
Tudo o que depende do Governo do Estado nós estamos buscando fazer. Para a questão das estiagens, trabalhamos na facilitação do licenciamento para fazer irrigação. Não é mais preciso licenciamento para a instalação de pivôs, por exemplo. Além disso, abrimos espaço para que seja de competência dos Municípios fazer o licenciamento para açudes e barragens de até 25 hectares, o que multiplica a capacidade de licenciamento que antes era concentrada no Estado, gerando um gargalo para atender toda a demanda.Também criamos o programa ‘Irriga Mais”, em que o Estado subvenciona projetos de irrigação em até 20% (com limite de R$ 100 mil). O produtor rural que quiser investir em irrigação tem licenças mais fáceis e tem acesso a recursos do Estado. Não é um financiamento, o Estado paga até R$ 100 mil para ele diretamente. É um prêmio porque interessa para o Estado que se amplie fortemente esse processo de irrigação.
Também estamos com um novo programa - aprovado na terça-feira, 6, na Assembleia Legislativa - para viabilizar a recuperação de solos [Programa de Recuperação Socioprodutiva, Ambiental e de Resiliência Climática da Agricultura Familiar Gaúcha]. Vamos colocar na mão de milhares de produtores rurais um cartão em que ele terá aproximadamente R$ 30 mil (por propriedade) para compra de insumos necessários para fazer a recuperação do solo [...].
O que o Estado pode fazer está sendo feito, mas nós também precisamos que a União faça a sua parte. Estamos buscando uma mobilização dos agentes políticos, dos setores produtivos, para sensibilizar a União na direção de repactuar as dívidas e dar a capacidade de fôlego para que os produtores possam fazer os seus investimentos. Foram nos últimos seis anos, pelo menos, quatro estiagens muito severas, além das enchentes que afetaram a produtividade no campo.
Desde que assumiu o Governo do Estado, o senhor propõe a extinção da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). Já tivemos as primeiras experiências de concessão à iniciativa privada no seu governo, como a RSC-287 e rodovias da Serra Gaúcha e Vale do Caí. Neste momento, o governo está em processo de concessão do bloco 2, que abrange o Vale do Taquari e também a região Norte. Como encontrar um ponto de equilíbrio considerando que o usuário quer uma tarifa mais em conta e o Estado defende a capacidade de investimento para que tenhamos rodovias seguras e mais resilientes?
É muito importante destacar que uma concessão rodoviária não é sobre pedágios. É sobre investimentos, é sobre duplicações, terceiras pistas, viadutos, passarelas, serviços de guinchos e de ambulância. É sobre qualificar as nossas rodovias, e essa qualificação custa dinheiro, muito dinheiro. Estamos falando de bilhões de reais de um Estado que, por mais que tenha recuperado a sua capacidade de investimentos, como nós fizemos ao longo dos últimos anos, tem muito mais demandas e carências em termos de investimentos de infraestrutura do que é capaz de suportar sozinho no seu orçamento. Além de conseguir fazer esse investimento, o Estado precisa manter a qualidade dessas estradas ao longo do tempo. [...] No bloco 2 estamos falando de R$ 7 bilhões em investimentos. De 415 quilômetros de área concedida de rodovias, mais de 240 quilômetros de duplicações serão viabilizados. É muito investimento para mudar de patamar essas rodovias. E a partir do sistema free-flow, vamos dividir o custo dessa tarifa de forma mais justa. Agora, é claro que isso se apresenta como uma oportunidade para demagogos e políticos irresponsáveis quererem fazer um debate com base em mentiras e fake news, distorcendo essa realidade, como se o Estado fosse sair de seis ou sete praças de pedágios para mais de 20 praças. Não são 20 praças, são 20 pórticos, com valores menores, porque se todo mundo vai pagar o que usa da rodovia, todo mundo paga menos, essa é a realidade. É uma mudança de cultura, mas muito importante para o Estado. Nós estamos tratando esse tema com a mesma forma que nós tratamos as reformas, as privatizações: sempre com a verdade, com o diálogo, mostrando o caminho.
Nós já asseguramos para essa região do bloco 2 que a tarifa que, originalmente, estava projetada em 23 centavos, não será de 23 centavos. Nós já tomamos essa decisão, o Estado vai fazer ajustes em termos de fluxo e do cronograma de obras e está estudando um aporte maior e fixo. Agora no mês de maio, na primeira quinzena ainda, devemos apresentar para a comunidade o formato que encontramos para poder reduzir essa tarifa para um valor menor, além de encaminharmos um processo de leilão que vai ser mais favorável a descontos maiores da tarifa.
Há cinco anos, o senhor liderou uma das reformas mais importantes da história do Estado do Rio Grande do Sul, a Reforma da Previdência. No segundo mandato, o senhor elencou a educação como prioridade. Em meio a tudo isso, uma enchente histórica. Com um ano e meio de governo pela frente, o que Eduardo Leite ainda quer fazer pelo Rio Grande do Sul e que ainda não fez?
Como agente político e um servidor público numa posição de liderança, sou muito feliz com aquilo que fomos capazes de fazer, ainda mais quando eu olho para as dificuldades que já tínhamos e para aquelas que se apresentaram no meio do caminho, como a pandemia, estiagens e enchentes.
Eu tive que lidar com uma crise fiscal aguda, com a qual nós começamos o governo. Também tivemos que lidar com a maior seca dos últimos 70 anos - talvez o ciclo de secas mais longo que o Estado já viu, pelo menos na história recente -, a maior enchente da nossa história e a maior crise sanitária que a humanidade já viu, que foi a pandemia. E mesmo nessas condições adversas, o Estado arrumou as contas, abriu espaço para investimentos e em qualquer área, saúde, segurança, logística, educação, esse governo tem números melhores do que os governos que nos antecederam, mesmo que eles não tenham enfrentado todos esses desafios de pandemia, de estiagem, de enchente como nós enfrentamos.
Na segurança pública, o Estado tem os melhores indicadores da história recente. Reduzimos os homicídios, os roubos de veículos e roubos a pedestres aos menores índices. Desde que o Estado tem dados oficiais padronizados, são os melhores números. As estradas avançaram na sua qualidade, tem problemas, mas apresentam uma qualidade melhor. Também é o governo com mais entrega de acessos asfálticos nas últimas gestões do Estado. Na educação, pulamos de 1% das escolas de Ensino Médio com tempo integral para 30% neste ano e vamos chegar no ano que vem a 50% das escolas. Também podemos citar a implementação do uniforme escolar na rede estadual, todas as escolas recebendo kits de computadores, os professores recebendo notebooks, resolvemos a questão do piso do magistério, avançamos muitos temas da educação. Na saúde, 130 hospitais já receberam mais de R$ 600 milhões e a gente vai chegar a R$ 1 bilhão de investimentos. Fizemos o maior volume de investimentos na história da Fapergs, que é a nossa Fundação de Amparo à Pesquisa e o maior volume de recursos disponíveis em editais para financiamento à ciência e tecnologia da história do Rio Grande é neste ano de 2025.
Nas diversas áreas do estado têm números muito positivos, mas claro, eu sempre quero mais e digo para nossa equipe que serei governador até o último dia, insistindo e brigando para que a gente avance cada vez mais. Uma coisa está muito clara para mim: a trajetória está certa, o rumo está certo. E é esse rumo que não pode se perder no Rio Grande do Sul, porque a gente já deu passos em falso na história. Eu tenho o privilégio de ser o primeiro governador reeleito e vi o quanto que fez diferença para o Estado a continuidade. Desde a redemocratização, nunca houve antes um governo de continuidade. O candidato do governador, mesmo antes da reeleição, não ganhava a eleição. Já quebramos um tabu na eleição de 2022, tivemos a continuidade de governo e fez toda a diferença, porque a gente não começa no primeiro dia do zero. Estamos no rumo correto e vamos entregar muitas coisas até o final do mandato, mas os problemas não estarão todos resolvidos, é humanamente impossível resolver todos os problemas. Mas, eu tenho certeza que vamos entregar para o próximo governo muitos bons projetos em andamento e eu espero que o futuro governador tenha a capacidade de encaminhar a continuidade com a evolução.
ELEIÇÕES 2026
“Não me sinto representado na polarização que aí está”
O futuro político também foi pauta da entrevista com o governador Eduardo Leite. Primeiro governador reeleito da história do Rio Grande do Sul, Leite se apresenta ao cenário nacional e afirma que vai se dedicar a uma candidatura à presidência da República nas eleições de 2026. “Eu tenho essa disposição, eu não me sinto representado na polarização que aí está. Eu acho que a gente precisa criar um caminho alternativo”, frisou.
Diante de um cenário polarizado em âmbito nacional, Leite defende diálogo e “brigas” pelos reais interesses dos brasileiros. “A gente foi para a última eleição votando mais com mágoas e ressentimentos do que com esperança. Eu acho que a eleição numa democracia é um momento muito precioso para a gente desperdiçar votando contra alguém. Temos que votar a favor de algum projeto que a gente acredita, que dá esperança, que dá confiança no futuro”, completou.
Filiado ao PSDB há 24 anos - partido que vai passar por uma fusão com o Podemos - Leite confirma que deve definir o rumo partidário nos próximos dias. “Estarei no novo partido, seja ficando neste novo partido que se constitui ou indo para outro. Isso deverá ser decidido não apenas da minha parte, mas com o grupo que eu represento, porque eu não ando sozinho na política. Tenho prefeitos, deputados, um grupo político que me acompanha e essa é uma discussão que nós estamos fazendo”, afirma.
SENADO COMO OPÇÃO
Independente da definição do partido e da decisão interna da futura sigla, Leite garante que estará ativamente envolvido com o processo eleitoral do ano que vem. Se a candidatura presidencial não se confirmar, o chefe do Executivo gaúcho adianta que uma candidatura ao Senado é considerada também.
Torcida a Gabriel Souza na disputa ao Piratini
Ao projetar a reta final do governo, Eduardo Leite reafirmou apoio ao vice-governador Gabriel Souza (MDB) na disputa ao Palácio Piratini. “Eu desejo que o próximo governo seja melhor ainda que o meu, eu não quero simplesmente um governo de continuidade, quero um governo de evolução. E o Gabriel tem todas as credenciais para isso, é quem eu aposto que deverá poder continuar esse trabalho”, declarou.
Por Letícia Wacholz - (Especial à ADI Multimídia)